Suicídio de policiais: O véu de mortes que recai sobre agentes de segurança

Nos labirintos da quarta maior cidade brasileira, onde a violência traça rotas de medo e bravura, há um campo de batalha ainda mais íntimo, um grito que ecoa nas estatísticas: o suicídio de policiais.

Uma epidemia silenciosa, que não se veste de visibilidade sobre confrontos, mas se infiltra na alma daqueles que, dia após dia, enfrentam o abismo. O POVO+, por meio da sua Central de Dados, teve acesso aos dados que revelam como este cenário está ficando cada vez mais preocupante.

Longe dos holofotes, esses atos de desespero revelam a fragilidade da saúde mental de uma categoria profissional submetida a pressões extremas.

Fora do campo de batalha

Os dados obtidos pela Central de Dados O POVO+ via Lei de Acesso à Informação (LAI) apontam que, entre 2013 e 2025, o Ceará registrou 84 suicídios de agentes de segurança, com uma preocupante tendência de aumento a partir de 2018, e um pico histórico em 2024 (14 casos).

No período em questão, o Estado registrou 229 mortes nessa categoria, sendo 63,3% delas em decorrência de crimes violentos, letais e intencionais (homicídios e latrocínios) e 36,7% por suicídio.

Os dados evidenciam uma inversão preocupante: se em 2016 foram registradas 30 mortes violentas (20,7% do total) contra 3 suicídios (3,6%), em 2023, pela primeira vez, suicídios e mortes violentas empataram, com 9 casos cada.

Já em 2024 a situação quase se repetiu, com as mortes violentas (15 casos) quase se igualando aos suicídios (14 casos). A situação dá indícios que podemos estar diante do agravamento dos casos de adoecimento mental entre os trabalhadores da segurança pública.

Outros dados recentes colaboram para traçar um quadro sombrio. Em um artigo de 2023, Fernanda Bassani, doutora em Psicologia e psicóloga da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, revelou que, naquele ano, os policiais protagonizaram 20 suicídios por 100 mil habitantes.

O número é quase três vezes maior que a média da população em geral, que registrou 8 mortes autoinfligidas por 100 mil habitantes. Este dado marca um ponto crítico, pois pela primeira vez, as mortes por suicídio superaram as mortes de policiais em confrontos durante a folga, com um aumento de 26,2% em relação a 2022.

E a Polícia Militar (PMCE) é a corporação que mais responde pelos suicídios registrados entre policiais no Ceará, com 61 casos de 2013 a 2025. Em segundo lugar, a Polícia Civil (PCCE) soma 11 mortes, enquanto Polícia Penal e Guarda Municipal contabilizam 6 casos, cada.

A cada 10 suicídios de policiais no Ceará, 7 são de PMs

O adoecimento mental é uma etapa crucial nesse processo. Embora haja uma carência de dados nacionais oficiais sobre afastamentos por motivos psiquiátricos ou atendimentos psicológicos nas polícias, Fernanda Bassani citou a importância do 1º Censo da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, feito em 2020.

O relatório indicou que, à época, remédios psicotrópicos já eram o segundo grupo de medicamentos mais usado pelos policiais no RS. Além disso, o número de afastamentos por doenças psiquiátricas saltou de 1,9 afastamento/dia em 2018 para 3,2 dias em 2022 na mesma corporação.

Fonte: O Povo 

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